Eu tinha curiosidade de ler esse livro desde o lançamento aqui pela Editora Alt. As Últimas Sobreviventes, da autora Jennifer Dugan, acompanha duas garotas que conseguem sobreviver a um terrível massacre num acampamento de férias. Mas o fato de terem escapado com vida não significa que estão livres do terror.
Se gostou desse livro, pode curtir essas leituras:
Sloan e Cherry são namoradas e escaparam de um massacre juntas. Ou ao menos é o que todas as evidências mostram, porque Sloan não tem muitas lembranças daquela noite traumática. Ela tem feito uma espécie de terapia alternativa porque suas idas a psicólogos não funcionaram, e está tentando seguir sua vida com as lacunas na memória.
O problema é que quanto mais pensa naquela noite, pior fica a sensação de que a verdade que Cherry conta não é a verdade por completo. Sloan quer investigar a fundo. Quer toda a verdade, não importa o que isso vai fazer com ela.
As Últimas Sobreviventes foi uma leitura surpreendente. No bom e no mal sentido. Eu tinha criado uma expectativa com esse livro e ele me atropelou com os caminhos que escolheu seguir. Alguns foram muito bons, outros nem tanto.
A começar pelas personagens principais. Elas são bem complexas e difíceis de lidar, e foi isso que deixou a história mais interessante pra mim. Sloan e Cherry são sobreviventes. Elas carregam traumas e horrores que moldam sua personalidade naquele ponto da história. Elas não são personagens fáceis, nem mesmo gostáveis. Têm muitos defeitos, a maior parte deles muito evidenciada pela narrativa. E por isso são tão intrigantes.
O relacionamento delas também não é saudável, mas não acho que desenvolver um relacionamento bom foi a intenção do livro não. É um livro de terror, a gente precisa lembrar sempre. Livro de terror não tem responsabilidade de segurar na sua mão e te dizer que vai ficar tudo bem. O gênero existe para perturbar, para causar desconforto. E As Últimas Sobreviventes faz isso muito bem.
O relacionamento delas é tóxico, é dependente, é perturbador. Elas criaram um vínculo emotivo e logo depois passaram por um trauma inconcebível. É lógico que elas vivem uma relação conturbada. Não é para ser exemplar, muito menos shippável. Ainda que Cherry se esforce para trazer o lado saudável da relação à tona, Sloan está tão afundada no trauma que não tem como isso acontecer.
- Eu preciso voltar pro passado antes de ser capaz de seguir pro futuro, Cherry.
Em nenhum momento você tem a sensação de que as personagens estão caminhando para um final bom. A todo momento a pressão cresce, a tensão escalona e você só consegue pensar que "meu deus do céu esse trem vai descarrilhar". Quando descarrilha, é numa direção tão inesperada que eu fiquei olhando pra parede por uns bons minutos pensando no que eu tinha acabado de ler.
A autora teceu uma trama tão surpreendente ali nas cinquenta páginas finais, que ela vinha desenvolvendo no decorrer da história com pontos sutis de paranoia e de horror, que quando acontece choca e te deixa em tela azul.
Toda a questão do "por quê?" que permeia as dúvidas de As Últimas Sobreviventes é muito interessante. E quanto mais as garotas (Sloan, principalmente) escavam desse mistério, mais a gente implora pra que deixe isso para lá porque não vai vir coisa boa da revelação.
Era injusto que o mundo continuasse girando, que a vida seguisse em frente, mesmo quando ela desejava que tudo parasse.
Esses foram os pontos positivos para mim (e ironicamente foi o que eu vi muita gente reclamando a respeito). Os negativos tiveram mais a ver com a estrutura do livro do que com o desenvolvimento dele. Achei que muitos momentos acabaram jogados ali no meio, causando uma barriga que mais arrasta a história do que acrescenta coisas nela.
A autora podia ter cortado alguns momentos de vaivém que não levaram a lugar nenhum, principalmente em relação às protagonistas. Em uma cena a Sloan e a Cherry estão surtando, na outra elas firmam um compromisso de deixar pra lá para logo em seguida já surtar de novo. Algumas coisas aparecem na trama, também, para levar a uns becos sem saída que não serviram de nada no desenvolvimento do plot principal.
Falando em plot: apesar de não ser um twist, o final tem uma reviravolta que com certeza me pegou de surpresa. Mais por bagunçar a minha cabeça do que por realmente resolver uma parte da trama, eu gostei de como a autora mexeu com o nosso entendimento do que era real ou não, e nos fez mergulhar de cabeça na paranoia junto com a personagem.
- A gente nunca esquece quem consegue escapar.
A edição da Alt tá muito bonita. Eu gostei bastante da capa brasileira, da tradução da Vanessa Raposo e da diagramação confortável para leitura.
As Últimas Sobreviventes é um livro com altos e baixos. Os altos surpreendem tanto que acabam compensando os baixos, ainda que eles atrapalhem um pouco a leitura ali pela metade do livro. Quando termina, é um tapa na cara. Um ótimo exemplar de como fazer um "o que acontece depois que o terror slasher acaba?" surpreender.
Sinopse: Sloan e Cherry se conheceram apenas alguns dias antes de homens mascarados e armados com facões atacarem o acampamento de verão onde trabalhavam, um massacre que matou todos os seus colegas monitores. Agora, meses depois, as duas são inseparáveis. A experiência traumática as uniu de uma maneira que ninguém mais consegue entender. Mas à medida que novas evidências do incidente vêm à tona, Sloan descobre mais sobre os motivos por trás do assassinato ritualístico que as aproximou e começa a suspeitar que Cherry, agora sua namorada, pode ser mais do que apenas uma sobrevivente: ela pode estar envolvida no massacre. Cherry tenta tranquilizá-la, mas Sloan fica cada vez mais desconfiada. Cherry é vítima ou cúmplice? Está tentando enganá-la ou falando a verdade? Contra todas as probabilidades, Sloan sobreviveu àquela fatídica noite de verão. Mas será que sobreviverá ao que virá em seguida?
Título original: The Last Girls Standing
Autora: Jennifer Dugan
Editora: Alt
Tradução: Vanessa Raposo
Gênero: Terror | YA
Nota: 4
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe seu comentário, sua opinião é sempre muito bem-vinda!