Garotas Selvagens foi nossa leitura de outubro do Clube do Livro do QEL e, meu deus, que surpresa de livro! Fui pra ele com expectativas baixas depois de quebrar a cara com a leitura anterior, e foi a melhor escolha possível porque eu encontrei um dos meus novos livros favoritos.
Se curtiu essa história, vai gostar de:
Rhi se muda para viver com o tio depois que o pai é preso. Na nova cidade, ela não tem amigos e acaba escolhendo trabalhar meio período como guarda florestal junto com o tio, para gastar tempo e ocupar a mente perturbada.
Numa das suas rondas pela área florestal da cidade, ela encontra quatro garotas junto a dois lobos. Toda a situação parece ter saído de uma fábula, especialmente pelos trejeitos selvagens das meninas. Rhi se oferece para ajudá-las, e o resgate vai acabar por fazê-la mergulhar de cabeça na vida dessas quatro figuras misteriosas.
Garotas Selvagens foi diferente de tudo que eu esperava. É uma obra sobre irmandade feminina e sobre raiva feminina, acima de tudo, e é tão bem conduzida que me fisgou nas primeiras páginas e me deixou vidrada até o fim - que me fez chorar igual uma condenada.
Com uma sensibilidade ímpar, a autora nos conduz através da história dessas garotas selvagens, de Rhi e das pessoas ao redor delas, mantendo o foco sempre sobre as meninas. Cada capítulo explora os sentimentos, traumas e medos de cada uma das meninas resgatadas; nos apresenta o mundo de conto de fadas que elas pareciam viver na floresta, junto a um estranho que chamavam de Mãe, e coloca uma pulga atrás da nossa orelha: era magia mesmo? Ou elas estavam vivendo um pesadelo disfarçado de fantasia?
Epiphanie, Verity, Sunder e Oblivienne têm personalidades únicas e são uma família, ainda que as origens de cada uma se desenrolem em situações inesperadas (principalmente da Verity). Quanto mais conhecemos as meninas, mais o choque entre o mundo mágico e a realidade se faz compreensível para o leitor e para elas.
É doloroso acompanhar a quebra da fantasia quando pisam no mundo real, quando são confrontadas com demandas de comportamento, aprisionadas em expectativas. E o livro trabalha bastante a questão da liberdade das meninas, dando força aos desenvolvimentos de cada uma de acordo com como encaram essa nova vida.
Garotas Selvagens é um livro sobre família que se encontra, que se fortifica nos momentos mais traumáticos, sobre a potência da amizade entre garotas que se amam mais do que qualquer força externa que tente se colocar entre elas. Junto com as meninas, Rhi se sente livre; se sente abertamente compreendida.
Falar sobre cada uma das personagens é entregar demais de uma história que se sustenta no mistério e na incerteza. Acho que o mais legal desse livro é ir descobrindo as coisas junto com as garotas. Quem são, quem eram, o que vivenciaram até então. Onde mora a verdade dentro da fantasia, onde mora a magia dentro da verdade.
O que significa ser uma garota, mas principalmente o que significa ser uma garota num mundo cruel como o nosso. Eu me encantei com cada uma das personagens, me senti parte da família dela, vibrei por cada momento feliz compartilhado e senti ódio por cada absurdo que eram forçadas a passar. Esse livro fala tão bem da raiva feminina que é difícil de explicar; você tem que sentir. E é todo tipo de raiva feminina, aliás. Passa por tantas vivências e tantas experiências que realmente abraça o que é ser uma garota em toda a sua complexidade (vale para garotas cis, para garotas trans, para todas nós).
É uma história forte, com momentos fortes. Tem uma lista de gatilhos na abertura do livro (e o fato de ter canibalismo é o ponto mais fraco do livro, veja bem), mas tudo que a autora trata é com uma sensibilidade cuidadosa, com discursos fortalecedores, principalmente para garotas da idade das personagens.
A tradução de Débora Landsberg ficou ótima, com adaptações maravilhosas. Só não sei se gostei do título; acho que uma tradução mais literal do original (The Wilderness of Girls) teria sido mais interessante pra passar o poder dessa trama. Gostei demais da edição da Alt também, revisão e diagramação excelentes. A capa brasileira combina demais com a história (muito mais do que a gringa, ouso dizer), passando essa vibe lúdica de conto de fadas que emana das páginas.
Garotas Selvagens é uma fábula sobre a realidade, sobre a vida de meninas que veem a liberdade escorregar entre seus dedos, mas se agarram a ela e umas às outras como sempre fizeram. Tem uma das irmandades femininas mais lindas que já tive a alegria de ler, e com certeza vai ficar no meu coração por muito tempo.
Sinopse: Uma história envolvente e repleta de mistério sobre cura e irmandade Após ser colocada em um lar adotivo, Rhi está sedenta por um novo começo e decide trabalhar no Parque Florestal de Happy Valley. Enquanto está na floresta, ela se depara com uma cena surreal: uma alcateia de lobos protegendo quatro garotas selvagens e majestosas. Depois de ganhar a confiança delas, Rhi descobre que elas acreditam ser princesas de outra terra, criadas por um profeta que chamam de Mãe — e estão convencidas de que Rhi é sua quinta irmã perdida. Sem saber no que acreditar, Rhi leva as garotas de volta à civilização, onde elas enfrentam comoção e escrutínio público, sendo apelidadas pela mídia voraz e pelos fãs de histórias de true crime como “As Garotas Selvagens de Happy Valley”. Desesperadas para retornar ao seu reino, as meninas pedem ajuda a Rhi, que, apesar de saber que não há como a história delas passar de uma ilusão, se sente atraída pela ousadia e autenticidade das garotas — traços que teme ter perdido em si mesma. Conforme fenômenos estranhos e impossíveis de se explicar se desenrolam, a linha entre fantasia e realidade começa a se confundir. Quando a busca por respostas se intensifica, Rhi precisa tomar uma decisão que mudará o curso de sua vida e a vida de suas garotas selvagens para sempre. Garotas selvagens é uma narrativa envolvente que explora como o mundo ensina as jovens garotas a aprisionarem sua natureza selvagem — e o que acontece quando elas decidem se libertar.
Título original: The wilderness of girls
Autoria: Madeline Claire Franklin
Autoria: Madeline Claire Franklin
Tradução: Débora Landsberg
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