Resenha: O deserto está vivo - Elizabeth Wetmore - Queria Estar Lendo

Resenha: O deserto está vivo - Elizabeth Wetmore

Publicado em 9 de jul. de 2022

Resenha: O deserto está vivo - Elizabeth Wetmore

A resenha de hoje é sobre O deserto está vivo é o livro da Trama Box 7. Um psychological thriller ambientado no Texas, nos anos 70, que envolve diferentes mulheres em uma trama tensa e perturbadora.

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A história começa com Gloria, despertando no meio do deserto depois de ter sofrido um estupro. Ela foge do violentador e busca ajuda na casa mais próxima que consegue encontrar, a de um casal de fazendeiros; Mary Rose, a mulher, a recebe e ajuda, e é a partir daí que somos apresentades à cidade de Odessa, no Texas, e às as mulheres e suas histórias ali.

O deserto está vivo é um livro... Diferente. Difícil de explicar, inclusive, porque não segue nenhuma estrutura parecida com alguma coisa que eu tenha lido. É interessante por isso, mas foi frustrante também.

Minha história? Não. Esta não é minha história.

A promessa de um thriller psicológico acaba passando longe do que a história realmente é; um thriller com muito drama, e pouca tensão realmente. A história não gira em torno do crime e nem da investigação, muito menos do julgamento. Gira em torno de muitas personagens, o que acaba tornando a fluidez um problema.

Conhecemos Glory - como ela pede para ser chamada depois do crime, para desvincular seu nome daquele momento terrível - Mary Rose, Corrine, Debra Ann, Suzanne, Ginny, Karla.

Cada uma dessas personagens tem um ponto de vista no livro, e eles acontecem em momentos ritmados. O que acaba perturbando um pouco a conexão com a história, porque sempre que ela começa a escalonar para a tensão, é interrompida para nos apresentar alguém novo. Só lá para a página 120 é que os pontos de vista começaram a se repetir, e eu consegui realmente entender para onde o livro estava indo.

Resenha: O deserto está vivo - Elizabeth Wetmore

Tem alguns pontos de vista que parecem ir a lugar nenhum, e essa sensação perdura até quase o fim. Mas a verdade é que eles estão ali e aparecem porque precisam estar. O capítulo da Ginny, por exemplo, me deixou perdida por um bom tempo, até entender que ele estava ali porque ela era importante.

As mulheres e suas histórias individuais, unidas por essa terrível e esquecida cidadezinha do Texas, importavam; e é isso que o livro está querendo mostrar. Elizabeth Wetmore tece um suspense que não é exatamente um suspense, porque a gente já sabe o que o final reserva para pelo menos uma das tramas.

De novo, não é um thriller como os outros. Ele tem uma estrutura única, e o único capítulo que realmente usa dos artifícios do gênero envolve o tribunal, mas, ainda assim, é um capítulo muito mais focado na Mary Rose do que no que está acontecendo ao redor dela.

Porque O deserto está vivo é um livro sobre as mulheres de Odessa. É uma história dramática, carregada na dificuldade da vida de cada uma delas. Explora, nas poucas páginas que dá a cada uma, o extremo que viveram e sentiram.

A avó de Ginny nunca fez muita questão de lhe contar a respeito das mulheres que haviam sobrevivido. Mas as histórias sobre as que morreram tentando? São vívidas e inesquecíveis.

Uma mãe solitária, uma filha solitária, uma viúva solitária, uma dona de casa solitária, uma sobrevivente solitária. Cada uma delas está transbordando em solidão, e por isso está vivendo essas ondas de tensão e perturbação.

Mas, como eu disse, são poucas páginas, então ao mesmo tempo em que o livro funciona para falar sobre suas mulheres, ele é vago. Eu queria que ele tivesse explorado mais das personagens, das suas dores e sentimentos. Eu queria conhecer cada uma delas com mais calma.

Resenha: O deserto está vivo - Elizabeth Wetmore

A história que a gente vê na sinopse não interliga, realmente, as outras que o livro nos apresenta - com exceção da Mary Rose, mas ainda assim muito pouco, e apenas por consequência e envolvimento.

As outras mulheres estão ali, e isso pode frustrar quem for ler O deserto está vivo esperando uma história de união e justiça. Não tem nada disso aqui. É, realmente, um relato sobre as diferentes vidas e sacrifícios e perdas e alegrias das mulheres de Odessa.

Mas em um lugar como esse, misericórdia é algo difícil de se encontrar.

Outro ponto que me desconectou demais da história - e aqui o problema é só meu mesmo - foi a narrativa. Eu não gosto de livros sem diálogos marcados; trauma de Ensino Médio, sim, e eu juro vingança ao Saramago, mas odeio, odeio, odeio histórias que são uma narração sem fim, com os diálogos aparecendo entre as outras sentenças. Me desconecta demais da história.

Resenha: O deserto está vivo - Elizabeth Wetmore

A edição da Trama está bem bonita, com uma tradução ótima de Robert Clapp, diagramação e revisão excelentes. A caixinha veio com porta-copos com artes de carros antigos, e uma revista falando sobre a história, autora e curiosidades.

O deserto está vivo é, no fim das contas, uma surpresa. Teve alguns escorregões, mas um final pé no chão, terrivelmente realista e até um pouco esperançoso. É um livro sobre diferentes histórias de mulheres conectadas por uma cidade esquecida do mundo, em uma época cruel.

Sinopse: O ano é 1976, e a cidade de Odessa, no Texas, está prestes a viver um grande crescimento econômico por conta da atividade petrolífera da região. Na manhã do dia 15 de fevereiro, logo quando os primeiros raios de sol atingem o campo de petróleo, Gloria Ramírez, uma menina de apenas 14 anos, consegue encontrar forças para escapar do seu agressor. Ela atravessa o terreno entre bombas de sucção e cercas de arame farpado até chegar à porta de Mary Rose Whitehead, que a partir desse momento terá a vida virada pelo avesso - não apenas por presenciar a crueldade vivenciada por Gloria, que bem poderia ser sua filha, mas também pelos ecos deste crime, a gota d'água diante de inúmeras violências e injustiças que as mulheres de sua cidade sofrem diariamente há gerações. Pelas igrejas e bares, Gloria é julgada antes mesmo de o caso chegar ao tribunal. Mary e as outras mulheres de Odessa sabem o que está prestes a acontecer. Mas elas também sabem que, desta vez, estão unidas. A coragem é tudo o que lhes resta, e é com ela que farão justiça, não importam as consequências.

Título original: Valentine
Editora: Trama
Autora: Elizabeth Wetmore
Tradução: Roberta Clapp
Gênero: Thriller psicológico | Drama
Nota: 3,5


Um comentário:

  1. Oi Denise! Se fosse mais voltado para um thriller cheio de tensão eu leria, mas se pesa mais para o drama, não fiquei afim de conferir. Há outros da Trama que chamam mais minha atenção. Bjos!! Cida
    Moonlight Books

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