Resenha: A Rainha do Submundo - Bea Fitzgerald - Queria Estar Lendo

Resenha: A Rainha do Submundo - Bea Fitzgerald

Publicado em 11 de nov. de 2024

Resenha A Rainha do Submundo - Bea Fitzgerald

Cansada de ser apenas mais uma peça no jogo dos deuses, Perséfone, a deusa das flores, decide tomar as rédeas de seu destino. Em A Rainha do Submundo, publicado pela editora Rocco, Bea Fitzgerald nos presenteia com uma releitura épica e empoderada do mito de Perséfone.

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Nesta jornada, acompanhamos a transformação de uma jovem deusa em uma rainha forte e determinada a redefinir seu lugar no mundo e desafiar as expectativas divinas. Uma história tanto para as apaixonados pelo mito de Hades e Perséfone quanto aqueles que buscam narrativas femininas inspiradoras.

Antes da coroa, ela estava fadada a ser a eterna garotinha


Coré tinha apenas oito anos quando todo o seu futuro foi definido por si. Questionada por seu pai Zeus sobre o que ela queria, respondeu “o mundo” para “enchê-lo de flores”. E foi assim que virou a deusa das flores. Eternamente fadada a ser uma simples garotinha.
— E te dou o nome de... Coré. 
Meus olhos foram se arregalando à medida que os significados do nome passavam pela minha cabeça: pura, linda donzela, moça, garotinha. Pelo visto, isso era tudo que eu seria para ele.
Criada isolada na ilha da Sicília, tendo apenas a companhia de sua mãe Deméter e das ninfas, Coré cresceu com dificuldades para se adequar. Nada nunca era bom o bastante para sua mãe superprotetora. Tudo o que Coré era em seu íntimo - curiosa, aventureira, questionadora, provocativa e dona de uma língua afiada - era visto como inadequado.
Ela era inadequada. E não importava o quanto ela tentansse, quantas porções de si mesma ela sacrificasse em busca de aprovação, nunca era o suficiente. Coré não era o suficiente.
Fadada a ser um eterno desapontamento, seu destino só piorava. Como uma deusa menor e com poderes sem grande relevância, a única maneira de garantir que estivesse protegida é por meio de um casamento. Afinal, todos sabem que nada pode impedir um deus quando ele decide que deseja uma mulher, seja ela mortal ou não. Nada, além de outro deus, é claro. Mas quem a protegeria de seu marido?

Um casamento arranjado com um Olimpiano, talvez até mesmo um dos seus meios-irmãos, era tudo o que ela menos queria. Ser vista como um eterno pedaço de carne, uma obra bonita a ser exibida, uma mulher obediente e amável que viva para servir. Coré nunca quis nada disso, nunca quis um casamento, nunca quis trocar uma prisão por outra. Tudo o que ela sempre quis foi liberdade, poder viver e tomar suas próprias escolhas.
É por isso que em um momento de desespero, quando sua mãe e seu pai começam o leilão para receber os candidatos a seu futuro marido, ela faz o impensado. Em um ato de desespero e rebeldia, Coré invoca Hades e o engana para abrigá-la no Submundo, o único lugar onde seus pais nunca conseguiriam encontrá-la.
Então se preciso dar aos deuses algo a temer, pois bem. Vou dar a eles o próprio Inferno.

Quando chega ao mundo dos mortos, tudo é sombrio e sem vida. O reino de Hades é devastado e vazio, as almas dos humanos mortos vagando a esmo pelos campos, se perdendo e desfazendo em suas próprias memórias de terror. A terra austera e seca clama por ela, gerando uma conexão profunda, implorando pela vida que apenas Coré pode lhe proporcionar. E é isso que ela faz. Criando imensidões como os Campos de Asfódelos e belezas como as estiges, em homenagem ao rio do ódio que corta o Submundo.
Resenha A Rainha do Submundo - Bea Fitzgerald
De uma maneira estranha e inimaginável, pouco a pouco Coré vai percebendo que o reino dos mortos é mais do que apenas um bom esconderijo. Ela se importa com as almas humanas, quer entender como ajudá-las. Ela se importa com os deuses do submundo, principalmente com Estige que vira sua melhor amiga. Ela se importa, mesmo que a contragosto, com o Rei do Inferno ainda que ele seja um idiota obcecado com pergaminhos. Coré se importa com o Submundo. Porque por mais estranho que possa parecer, ela é feliz ali. Ela se sente a vontade, livre. É seu lar.

Coré era a deusa das flores. Perséfone era a Rainha do Submundo.


O romance entre Hades e Perséfone se desenvolve lentamente, no melhor estilo slow burn. Esqueça toda aquela história de rapto, donzela indefesa e rei perverso. Na releitura de Bea Fitzgerald é Perséfone quem força a mão do deus dos mortos, obrigando-o a deixar que ela fique em seu reino.

O que começa com uma implicância entre ambos, vai se desenvolvendo em uma amizade e cumplicidade linda de se acompanhar. Um hate to friends to lovers gostosinho demais.

— Fique comigo. Case comigo — diz ele, como se as duas frases tivessem o mesmo significado.

É Hades quem a percebe pela primeira vez. Quem a enxerga e a aceita. Mais do que isso, a incita e a provoca a ser quem verdadeiramente é. A mulher de cabelos soltos, vestido sujo de lama, sorrisinho sarcástico e língua afiada.
Por outro lado, Perséfone desafia o Deus do Submundo a ser melhor. A cuidar de seu reino, a fazer melhoria, a se importar com os humanos. A construir uma vida após a morte e, com isso, abalar tudo o que se conhece.

O romance que traz o melhor do ranzinza que se apaixona pelo raio de sol

Em um primeiro momento o trope de grumpy x sunshine vêm em mente quando presenciamos as primeiras trocas entre os dois. Mas não se engane, existem mais camadas e doçura no Rei do Inferno do que se pode imaginar. E Perséfone, bem, Perséfone é caoticamente perfeita.
Como disse, o romance é lento e foca muito mais no desenvolvimento dos personagens e da sua relação do que no relacionamento em si. Mas chega a ser quase irritante o quão óbvio é que são dois idiotas completamente apaixonados um pelo outro e que tem medo de se declarar porque não acreditam que seja recíproco.
É fácil admitir que o amo. Mais difícil é entender de que maneira.
Os dois foram feitos um para o outro, embora eu não goste de atribuir a relação deles ao destino. Prefiro sempre pensar que foram suas escolhas que os levaram até ali. Que eles escolheram um ao outro sucessivamente, até o fim.

Antes de mais nada, deixe-me deixar uma coisa bem clara: Zeus é um babaca que merece tudo de pior na vida dele. Fim.

O desenvolvimento da raiva feminina


O Rei dos Deuses é a representação perfeita do meme “Pai ausente = trauma. Pai presente = trauma em dobro”. A forma como ele trata a filha, e todas as mulheres na verdade, desde dar a ela o nome de Coré (garotinha) em um tentativa de diminuí-la até uma de suas ações mais imperdoáveis no final…

Coisas horríveis acontecem com garotas que dizem não ao meu pai.

Não existem palavras para descrever o quão cretino o Rei do Olimpo verdadeiramente é. Mas basta olhar para a mitologia, para todos os estupros, para toda a violência, para as punições desmidadas e os caprichos sem fim. Zeus é uma representação clara e clássica do patriarcado; violento, dominador, opressor.

Já Deméter é a outra moeda, o amor que sufoca, a proteção que machuca. Apavorada demais com o perigo do mundo dos homens e amando demais a filha para deixá-la desamparada, ela modela e remodela Coré na tentativa de lhe proteger.
Se Zeus a diminui para que ele se sinta bem. Deméter o faz para que possa guarda-la em segurança. De uma maneira ou de outra, ambos estão sempre a quebrando.

Mas você realmente ama alguém quando tenta mudar tudo naquela pessoa?
A Rainha do Submundo trás reflexões muito pertinentes e atuais sobre o patriarcado e o papel da mulher na sociedade. A releitura de Bea Fitzgerald do mito de Perséfone trabalha a autodescoberta e o empoderamento feminino de uma maneira muito agradável e reflexiva. É interessante como os deuses e suas ações servem ao papel de serem espelhos da sociedade atual. Estamos no século XXI e a mitologia grega ainda consegue ser pertinentemente moderna.

Deuses, sinto vontade de gritar, porque não existe saída. Literalmente todas as decisões que tomo, de uma forma ou de outra, são por causa dos homens. Não havia homens na minha ilha e, no entanto, eu só estava lá por causa deles.

Acompanhar a construção da personagem Coré e sua evolução para Perséfone é algo lindo e doloroso. Identificar todos os pequenos detalhes, todas as maneiras como podemos ser quebradas, subjugadas, relegadas a posições secundárias, diminuídas. Como as vezes até mesmo nossa liberdade ou posição de poder são prisões que nos deram e não percebemos.

A construção e empoderamento da rainha do submundo


Resenha A Rainha do Submundo - Bea Fitzgerald

E o melhor de tudo é que, mesmo com todas essas nuances e uma temática tão pesada e importante, o livro ainda consegue encantar e envolver. Bea Fitzgerald teve maestria ao saber conduzir esses temas dentro de uma história de autodescoberta e amor.
É desse jeito que começa? Com pequenas ações nos locais onde podemos realizá-las?
A Rainha do Submundo é uma indicação perfeita para todos que amam o romance épico de Hades e Perséfone. Bea Fitzgerald tem uma escrita envolvente e fluida e sabe equilibrar romance, tramas interessantes, temas importantes e desenvolvimento dos personagem.

É apenas o começo. Tenho deuses para destronar. Tenho caos para causar.
Esteja preparado para sentir raiva de Zeus, rancor de Deméter, se apaixonar por Hades e Perséfone e rir muito com a Estige. Lore Olympus pode ser incrível, mas A Rainha do Submundo é surreal.

Sinopse: Milhares de anos atrás, os deuses contaram uma mentira. De acordo com o Olimpo, Perséfone foi um mero peão na política divina. Primeiro, Hades a sequestrou para que ela fosse sua noiva. Então sua mãe, Deméter, ficou tão desnorteada e desesperada com a ideia de a filha ficar aprisionada no Mundo Inferior que fez com que a Terra começasse a morrer. A história real é muito mais interessante. Prestes a atingir a idade para se casar, não há nada que Perséfone tema mais do que a ideia de um casamento arranjado, especialmente se o marido for escolhido pelo pai, Zeus, que a detesta. Presa na ilha da Sicília tendo apenas a mãe, as ninfas e as flores como companhia, a jovem deusa toma uma decisão: ir até a única pessoa que pode ajudá-la a se esconder. No único lugar do mundo no qual ninguém poderá perturbá-la. No entanto, quando ela salta até lá através das raízes de uma flor, o rei do Mundo Inferior não é bem o que se espera de um anfitrião hospitaleiro. Ainda assim, Perséfone tem o plano perfeito que promete sacudir todas as colunas do Olimpo, e tudo o que precisa fazer é convencer Hades. Mas as consequências podem ser fatais, especialmente quando já se está no inferno...

Título original: Girl, Goddess, Queen
Autora: Bea Fitzgerald
Editora: Galera Record
Tradução: Raquel Zampil
Gênero: Ficção | Romance
Nota: 5+


Um comentário:

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