A Rainha Negra é o romance de estreia de Jumata Emill. Um suspense adolescente emocionante sobre rancor, privilégio branco e o senso de direito que vem com ele. Por aqui, o livro foi publicado pela editora Galera Record.
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Seguindo as novas políticas sociais do colégio, Nova Albright será eleita a próxima rainha do baile de formatura. A primeira rainha negra. Um título que vai muito além das paredes da escola, abrindo portas sociais importantes.
No entanto, no dia de sua coroação, Nova é morta. E a principal suspeita é Tinsley, a garota branca que, naquela noite, foi filmada falando que alguém deveia matar Nova e jogá-la no cemitério de escravizados — exatamente o que acaba acontecendo.
Tinsley é rica e vem de uma longa linhagem de rainhas do baile. E não consegue entender (ou aceitar) que isso não é o suficiente para fazê-la ganhar. Afinal de contas, sua irmã mais velha, sua mãe e sua avó, todas elas foram rainhas em suas épocas. Porque as regras tinham que mudar justo agora?
Mas Tinsley jura de pé juntos que não teve nada a ver com a morte de Nova. Exceto que a polícia está determinada a transformá-la na culpada, seja por causa do vídeo ou pelo rancor do chefe de polícia para com seus pais.
Assim, ela começa a investigar a morte de Nova por conta própria. Uma ideia que divide com Dutchess, a melhor amiga de Nova.
Dutchess é a filha do polícial encarregado do caso e está convencida de que Tinsley é a culpada. Até que a garota chega para pedir ajuda. Juntas, elas começam a desvender os últimos dias de Nova e Dutchess começa a perceber que talvez não soubesse tudo sobre sua melhor amiga como achava que sabia.
Não vou mentir, A rainha negra não inventa a roda. Ela conta uma história bem clichê até. Mas nada disso importa, porque você acaba se apegando aos personagens.
Mas os brancos são engraçados. Enquanto tudo estiver ao seu favor, eles dirão: "Esforce-se muito e você conseguirá qualquer coisa." Mas assim que recebemos uma migalha eles perdem a cabeça e querem se fazer de vítima, como a Tinsley McEscrota.
No meu caso, Nova foi o grande destaque. A cada descoberta sobre a vida dela, mais triste eu ficava. Triste porque ela nunca poderia realizar todos os seus sonhos, porque ela não teria a oportunidade de descobrir quem seria ou quais decisões tomaria.
Ela se transformou em uma daquelas personagens que ficam com a gente por muito tempo.
Já Deutchess e Tinslay não tiveram o mesmo impacto.
Sobre as protagonistas: Deutchess e Tinsley
Os pontos de vista de Deutchess demoraram a "pegar no tranco". Mas, apesar de ter arrastado um pouco a leitura, eu entendo. Porque ela perdeu a melhor amiga e o luto por Nova trouxe vários sentimentos que ela não estava sabendo lidar.
O luto por Nova reacendeu seu luto pela mãe. E as tensões raciais que se estabeleceram desde a morte da garota também faz com que Deutchess se sinta dividida em sua lealdade para com o pai.
Como o único policial negro da cidade, seu pai é criticado por brancos e negros e Deutchess precisa lidar com essa percepção de "traidor" que os colegas tem dele, ao mesmo tempo em que precisa lidar com o sentimento de traição que ela mesma sente.
Por que, se todo mundo sabe que Tinsley é culpada, por qual motivo ela ainda não foi presa? Por que não estão fazendo justiça por Nova com a mesma velocidade que fariam se ela fosse branca e seu assassino negro?
Das duas, Deutchess é a personagem mais complexa e mais interessante de acompanhar.
Já Tinsley é uma garota mimada do começo ao fim. Com a atitude de "não sou racista, tenho até amigos que são negros".
Porém, era através do ponto de vista dela que a investigação mais andava. Embora ela seja bem burrinha, foi através dela que conseguimos desvendar a maioria dos mistérios. Mas também não muda o fato de que ela me frustrou algumas vezes.
Eu entendo que os personagens precisam ser convenientes com o plot, mas as vezes a burrice da Tinsley extrapolava um pouco isso. E ela só foi juntar as peças bem no fim. E não só em relação a morte de Nova, mas também ao afastamento pelo qual ela e Deutchess passaram na infância.
Postei a foto preta nas minhas redes sociais como todo mundo fez durante os protestos pela mudança de conduta policial.
Também não sei como me sinto sobre o arco de redenção da Tinsley. Porque ser inocênte do assassinato é uma coisa, outra completamente diferente é fazer de conta que, por ela não ter matado Nova, todo seu comportamento racista e elitista anterior deixam de existir.
Ela de fato infernizou a vida das pessoas, inclusive de suas amigas e namorado. Ela não é uma boa pessoa e, na minha opinião, precisaria de mais do que encontrar o verdadeiro culpado pela morte de Nova para redimir tudo que ela fez.
Sinto que os dois arcos não deveriam ter se misturado.
O papel da polícia na história
Também achei interessante o papel da polícia na história.
Porque na maioria dos livros adolescente que li, onde eles saem fazendo a investigação, de duas uma:
- ou a polícia mal aparece na história
- ou a polícia é tão burra que não acha pistas importantes
E não é o caso aqui.
Normalmente, quando Deutchess ou Tinsley achavam que tinham feito uma grande descoberta, a polícia já sabia. E embora elas tivessem interpretado de maneira X, a polícia já tinha levantado outras questões. Sempre que elas achavam que tinham descoberto algo muito grande que a polícia não sabia, estavam enganadas.
O que fez com que elas tivessem que olhar mais para dentro do próprio corpo estudantil.
A vantagem que as meninas tinham em relação a polícia eram as fofocas do colégio e as coisas que os adolescentes não contavam para ninguém. E a capacidade de lembrar de coisas aparentemente alheias que podiam ter alguma relação com a investigação.
No entanto, acho importante ressaltar que alguns temas levantados, como a brutalidade policial e o profiling que a polícia faz ficaram bem de escanteio. Entendo, em partes, que o livro precisava focar na Deutchess e Tinsley e na investigação das duas, então não teria como se aprofundar muito. Mas fica aqui a nota.
Outra coisa que pra mim ficou um pouco solta com a história foi a forma como o chefe de polícia estava tratando o caso. Eu entendo que ele tinha uma rusga com os pais da Tinsley e estava pronto para fazer eles pagarem, mas sinto que não foi explorado a extensão que poderia.
E que, no fim, serviu mais para transformar a Tinsley na coitada que merecia redenção porque estava sendo perseguida pela polícia. Quase como para criar uma falsa simetria entre a forma como a polícia trata pessoas negros e a forma como ela estava sendo tratada.
Meus pensamentos finais sobre A Rainha Negra
Enfim, A Rainha Negra, de Jumata Emil é um thriller adolescente rápido de ler, que fisga o leitor desde o começo e, para o bem ou para o mal, nos faz querer ir até o fim e fazer justiça por Nova.
Eu gosto que, apesar de já termos uma boa ideia de quem fez o que no começo da história, ele vai introduzindo segredos alheios e suspeitos ao longo da narrativa que vai nos fazendo questionar. No fim, não estamos revelando apenas os segredos de Nova, mas o de todos envolvidos com seus últimos dias de vida.
A Rainha Negra é o tipo de história com uma conclusão agridoce e tocante o suficiente para ficar conosco por muito tempo ainda.
Uma leitura ideal para quem gosta de livros YA ou thrillers e, especialmente, para quem quer começar no gênero.
Sinopse: Nova Albright, a primeira rainha negra do baile de volta às aulas do Colégio Lovett High, foi assassinada na noite da coroação. Seu corpo é encontrado no cemitério onde costumavam enterrar os escravizados da cidade. Mas, na noite do crime, um vídeo se torna viral. As imagens mostram Tinsley McArthur, a garota branca, linda e rica que disputou o título com Nova, afirmar que deveria ter matado a concorrente e deixado o corpo no lugar onde ele de fato foi encontrado. As suspeitas recaem sobre Tinsley. Na escola, todo mundo sabe que a garota faria qualquer coisa para ser coroada. E Duchess Simmons, a melhor amiga da Rainha Negra, é a pessoa que tem mais certeza sobre a culpa de Tinsley. Ela acredita que a garota branca é privilegiada o suficiente para achar que pode sair impune do crime. Mas Duchess precisa enfrentar outro problema: seu pai é o primeiro capitão negro da polícia da região e se vê de mãos atadas diante da burocracia e da politicagem da instituição. O que significa que Tinsley pode mesmo se safar da acusação. Quando a menina pede que Duchess a ajude a provar sua inocência, ela aceita. Mas Duchess só tem uma coisa em mente: fazer justiça pela vida de sua amiga. Nem que para isso precise se aproximar de quem acredita ser a assassina. Ela só não imaginava que a investigação começaria a revelar segredos sobre o passado de Nova. Segredos que podem mudar tudo. Afinal, quem era de verdade a Rainha Negra?
Título original: The Black Queen
Autor: Jumata Emill
Tradução: Melissa Lopes
Editora: Galera Record
Gênero: YA | Thriller | Suspense
Nota: 4
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