Resenha: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes - Suzanne Collins - Queria Estar Lendo

Resenha: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes - Suzanne Collins

Publicado em 27 de dez. de 2023

Resenha: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes - Suzanne Collins

Eu resolvi dar uma segunda chance para o livro do Snow, depois da minha releitura de Jogos Vorazes. Fui de mente aberta, sem lembrar muito da história. E qual foi a maior surpresa desse ano, e maior plot twist literário da minha vida, o fato de eu ter gostado muito de A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes.

Para quem curtiu esse livro:

A história se passa anos antes da revolução da Katniss. O presidente Snow é só Coriolanus Snow, um adolescente estudando na academia da Capital, prestes a ingressar um programa que vai colocá-lo como mentor de um tributo na décima edição dos Jogos Vorazes.

Coriolanus quer se provar para a Academia. Mais do que isso, ele precisa. Sua família está à beira da falência, e perder tudo que os grandiosos Snow conquistaram é admitir uma derrota que ele jamais vai aceitar.

Quando a arredia e artística garota do Distrito 12 é designada para ele, Snow vê em Lucy Gray uma oportunidade de brilhar. Sem imaginar que se aproximar dela pode despertar sentimentos inesperados nele mesmo.

A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes é um livro complexo. Assim como a minha relação com ele. Da primeira vez que li, seja a vibe errada ou a minha própria birra, acabei tendo uma péssima experiência de leitura. Eu li o e-book em inglês quando foi lançado lá fora, detestei quase tudo e jurei vingança a essa história.

Resenha: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes - Suzanne Collins

Fiz uma maratona de releitura de Jogos Vorazes no fim desse ano para lembrar que gosto de ler, e acabei resolvendo dar uma nova chance para esse spin-off. Eis que eu me surpreendi de todas as maneiras possíveis com ele: gostei do que reli.

Ainda tenho algumas coisas contra as escolhas narrativa da Suzanne em certas partes da história - principalmente o terceiro ato. Ele é bem truncado e enroscado, de um jeito arrastado que beira o tédio. Acho que podia ter sido mais bem enxugado e, assim, entregaria a tensão que os últimos capítulos entregam tão bem.

Mas, num contexto geral, eu admito sim que mordi a língua e gostei de A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes.

O desenvolvimento das duas primeiras partes do livro é bem primoroso. Ainda que o ponto chave da história seja o Snow, por não estarmos presos à mente dele, temos margem para uma interpretação bem mais ampla. Conhecemos mais dos personagens através das reações deles, e não do que o Snow julga ser as reações deles (ainda que os pensamentos dele estejam ali para colocar o leitor a par de como funciona a sua cabeça).

Toda a questão com os Jogos Vorazes é bem interessante. Estamos vendo uma Capital recém-reerguida, mas ainda capenga, depois da guerra. Uma Capital que tem medo da violência, e não busca o espetáculo dela. Que teme os Distritos, vendo-os como monstros e não como as vítimas. Uma Capital que se coloca como a verdadeira vítima, escorrendo hipocrisia.

Tudo isso se mostra bastante na perspectiva do que o Snow viveu e está vivendo. A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes é a história de como ele veio a se tornar o grande tirano que conhecemos na trilogia Jogos Vorazes. Aqui, ele não passa de um adolescente insuportável e reclamão - mas com potencial para os jogos de poder.

Resenha: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes - Suzanne Collins

Os embates internos dele são amostras de alguém que tem a frieza do vilão que vai se tornar. São impulsos discretos, pensamentos perturbadores, questionamentos rígidos. Pequenos traços de uma personalidade inclinada ao poder a todo custo - não apenas o poder, mas também o controle.

O romance no livro ainda é uma coisa que não me desce, ainda que sirva o seu propósito para ilustrar como o Snow se aproveita de tudo e todos em seu caminho.

Lucy Gray é uma personagem interessante e complexa, cheia de vida e de energia e de medo, mas também de força e provações. É com ela que Coriolanus tem seus momentos mais frágeis, quando vemos que poderia existir outro tipo de pessoa dentro dele se não estivesse tão sedento por comando.

Não tem química nenhuma e é até um pouco irritante de acompanhar, mas dá para usar essa irritação em favor da narrativa - principalmente em momentos onde a futilidade do Snow, e da Capital, são exasperantes. Como quando a maior preocupação dele é se a Lucy Gray está pensando nele dentro da arena, durante os Jogos Vorazes.

Eu queria que esse livro tivesse existido quando a trilogia existiu. Acho sim que muita coisa que foi enfiada aqui foi conveniente pela falta de informação e de construção de passado que tínhamos na trilogia. A autora foi esperta em se aproveitar disso, mas queria muito que apagamentos não tivessem acontecido para o futuro acontecer.

O leque de coadjuvantes que enche a trama em muito me agradou nessa releitura. Especialmente Sejanus e a dra. Gaul, peças tão essenciais para entendermos os extremos desse conflito sem fim.

Resenha: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes - Suzanne Collins

Sejanus é outro aluno da academia. Amigo de Coriolanus (pelo menos da parte do coitado do Sejanus), ele veio do Distrito 2 depois da guerra, quando seu pai foi promovido a cidadão da Capital. Apesar disso, Sejanus carrega o espírito de um garoto de um Distrito. Ele vê injustiça e se indigna. Ele vê o coitadismo da Capital e aponta dedos. Ele é um espírito rebelde esperando pelo momento de pegar fogo com todos os absurdos que tem que conviver.

A dra. Gaul, por outro lado, é o espírito da perversidade. Ela é uma das Idealizadoras, trabalha para acrescentar crueldade nos jogos. Ela busca entender o cerne da humanidade e vê nas pessoas a violência e apenas isso. Ela é uma antagonista bem forte, porque ela não é, de maneira alguma, uma antagonista dentro da história.

Como eu disse, com exceção do terceiro ato, o livro tem um ritmo bem frenético e bem conduzido que, nessa releitura, me manteve vidrada do começo ao fim. Tem muita nuance e muito cuidado na composição de mundo da Suzanne, e muitos easter eggs que se conectam diretamente aos buracos convenientes encontrados na história da Katniss.

Eu tinha uma opinião forte de que a origem de algumas coisas não era necessária, mas, com a mente mais aberta nessa segunda tentativa, gostei de como ela usou algumas coisas icônicas aqui. Como é o caso da origem da música The Hanging Tree.

A tradução da Regiane Winarski me ajudou demais na imersão. Tá um primor.

A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes foi uma péssima leitura num primeiro momento, mas uma excelente releitura no momento certo. A história de origem certa para um dos maiores vilões que a literatura distópica já conheceu.

Sinopse: É a manhã do dia da colheita que iniciará a décima edição dos Jogos Vorazes. Na Capital, o jovem de dezoito anos Coriolanus Snow se prepara para sua oportunidade de glória como um mentor dos Jogos. A outrora importante casa Snow passa por tempos difíceis e o destino dela depende da pequena chance de Coriolanus ser capaz de encantar, enganar e manipular seus colegas estudantes para conseguir mentorar o tributo vencedor. A sorte não está a favor dele. A ele foi dada a tarefa humilhante de mentorar a garota tributo do Distrito 12, o pior dos piores. Os destinos dos dois estão agora interligados – toda escolha que Coriolanus fizer pode significar sucesso ou fracasso, triunfo ou ruína. Na arena, a batalha será mortal. Fora da arena, Coriolanus começa a se apegar a já condenada garota tributo... e deverá pesar a necessidade de seguir as regras e o desejo de sobreviver custe o que custar.

Título original: The Ballad of Songbirds and Snakes
Editora: Rocco
Autora: Suzanne Collins
Tradução: Regiane Winarski
Gênero: Distopia
Nota: 4

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