Resenha: O Poder - Naomi Alderman - Queria Estar Lendo

Resenha: O Poder - Naomi Alderman

Publicado em 1 de jan. de 2019

Resenha: O Poder

O Poder foi um dos lançamentos da Editora Planeta nesse segundo semestre; a obra de Naomi Alderman constrói uma realidade onde as mulheres ganham o poder de eletrocutar outras pessoas - o que se desenrola em uma grandiosa mudança do mundo como conhecemos hoje.

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A trama se divide entre os pontos de vista de diversos personagens - em sua maioria, mulheres. Tudo o que se sabe a respeito do poder é que ele nasce com as mulheres e pode ser despertado nas que ainda não o possuíam; a capacidade de infringir dor se torna uma forma de controle, o que empurra as mulheres para uma posição de poder que não ocupavam antes. Em vez de caça, são as caçadoras. Em vez de obedecer, se tornam a voz de comando.

Conforme o mundo se adapta a essa nova realidade, o peso do poder começa a recair sobre cada personagem de maneira diferente. O que antes parecia um mundo utópico se torna um regime de medo e opressão; a história subverte as posições de gênero e constrói esse universo onde as mulheres são a voz e os homens o eco que deve obedecê-las.

Resenha: O Poder

Naomi Alderman ganhou minha atenção logo no início do livro, com o tom neutro e conciso com que apresentou o começo dessa nova ordem mundial. O Poder é um livro lento, mas que estabelece sua ideia logo no começo; essa é uma história para questionar, para chocar e para te fazer pensar bastante ao fim.

Tem o tipo de trama que se estende aos tempos passado, atual e futuro. Mostra personagens de diferentes personalidades e posições - em sua maioria, mulheres oprimidas de alguma maneira, e que se encontram nesse novo universo. Que veem nele uma oportunidade de mudanças.

Uma dúzia de mulheres se transformou em cem. Cem viraram mil. A polícia recuou. As mulheres gritaram; algumas fizeram cartazes. Elas entenderam a força que tinham, todas ao mesmo tempo.

Mas nem todo mundo está pronto para lidar com o poder, o com o que ele representa. Com as suas consequências.

Eu achei extremamente interessante como a autora conseguiu girar o tabuleiro e inverter o que foi imposto às mulheres com tamanha naturalidade. Não dá pra negar que é animador acompanhar o crescimento dessa sociedade onde a nossa voz tem um peso maior do que a do homem; soa como um mundo ideal à primeira vista.

Quebra paradigmas, expectativas, questiona e bate de frente com a História como a conhecemos. Posições políticas, sociais e culturais são invertidas de modo que as mulheres revidam toda a opressão sofrida até então.

- Deus não é mulher nem homem, mas ambas as coisas. Mas agora Ela veio nos mostrar um novo lado de Seu rosto, um lado que ignoramos por muito tempo.

O papel de Allie, uma das protagonistas, é representar o divino; com ela, Naomi fala sobre religião e sobre o nome de Deus - até então, tido como masculino porque foi imposto assim. As questões levantadas por essa personagem, o chamado por uma Deusa que representa tudo o que o Deus masculino também representava, as novas ideias apresentadas por ela servem para pensar muito a respeito.

Resenha: O Poder

No lado político, Margot é uma figura que se ergue junto ao poder feminino; uma mulher sedenta pelo que essa nova realidade tem a oferecer. Uma das responsáveis por ver o potencial não só político, mas também econômico e social da força adquirida pelo seu gênero - e de trabalhar para colocá-la em crescimento, para dar espaço para que elas cresçam mais e mais.

- Agora eles vão saber que são eles que não deveriam sair de casa sozinhos à noite. Que são eles que deveriam ter medo.

Como eu disse, o livro subverte as posições, coloca mulheres no comando e os homens submissos às suas vontades - e isso abre espaço para que eles sofram tudo o que sofremos na História; o que prometia ser uma sociedade igualitária se transforma em uma distopia rapidamente, corrompida pela barbárie. Pelo poder que exige cada vez mais. Os homens se tornam o que as mulheres foram durante tanto tempo.

O mais curioso é como esse livro me fez sentir. É impossível reprimir aquela emoção de retribuição conforme o patriarcado ruía, conforme os homens se viram enclausurados nas situações claustrofóbicas que todas as mulheres do mundo experimentaram a vida inteira. A empatia pela situação dos homens nasce em determinado momento, mas está ali como crítica também; é para que os leitores olhem para a situação vivida por aqueles personagens masculinos e entendam a dor e o desespero e a humilhação que é ser subjugado por seu gênero. Oprimido pelo oposto.

O Poder me fez sentir raiva novamente. Me fez ver tudo o que as mulheres sofreram e continuariam sofrendo, me fez imaginar o que seria daquele mundo se aquele poder tivesse aparecido nas mãos dos homens. Uma distopia que acrescentaria ainda mais terror na situação já medonha que é ser mulher hoje em dia.

"Os homens não têm mais permissão para votar, porque os anos de violência e degradação promovidos por eles demonstraram que eles não são capazes de governar."

O livro acaba não tocando em assuntos que vão além dos problemas cisgêneros, no entanto. Faltou um pouco de espaço para discutir essa questão com a opressão de mulheres trans, que sofrem tanto e também fazem parte da luta por igualdade.

O Poder é uma leitura impactante; pelas surpresas que entrega durante a leitura, pelas reviravoltas, pelo modo humano como trata todas as suas personagens - optando por um tom cinzento em cada personalidade. Ninguém ali é completamente bom ou completamente mau; são humanos vivendo uma situação extrema, lidando com ela da maneira com que aprenderam a lidar. Alguns usam violência, outros razão. Alguns optam pela verdade, outros pela omissão.

A raiva que guia muitas das personagens femininas é totalmente justificada. É aquele esquema de "não dá pra ser boazinha pra se impor" porque, sinceramente, foda-se ser boazinha. Apesar de chegar aos extremos, ainda é um cenário que mostra do que as mulheres são capazes, de como um simples artifício foi capaz de inverter o tabuleiro do poder.


Resenha: O Poder

Tunde e Roxy são bons exemplos do centro da balança; um jornalista e a filha de um criminoso que ora vivem o melhor e ora o pior do cenário que nasceu junto com a mutação. Um homem e uma mulher que queriam sobreviver e viver.

A edição da Planeta é uma coisa MARAVILHOSA. Capa dura, com acabamento especial e diagramação impecável, é o tipo de obra que você pega e fica admirando porque sempre vai encontrar algum detalhe novo pra encher seus olhos.

Eu com certeza não vou saber falar o suficiente sobre esse livro, por isso recomendo muito a leitura. O Poder é uma história impressionante que começou como utopia e se transformou em um grande questionamento.

Mesmo nos piores cenários encontrou espaço para falar do peso da opressão e de como ela marca as pessoas de maneira diferente; um livro que questiona a posição de submissão e que aponta os erros do patriarcado como consequências caso o quadro se invertesse.

Sinopse: Em um futuro próximo, as mulheres desenvolvem um estranho poder: elas se tornam capazes de eletrocutar outras pessoas, infligindo dores terríveis... até a morte. De repente, os homens se dão conta de que não estão mais no controle do mundo.

Título Original: The Power
Autora: Naomi Alderman
Tradutora: Rogério Galindo
Editora: Planeta
Gênero: Ficção | Distopia
Nota: 5


4 comentários:

  1. nossa amei conhecer o escopo desse livro, a historia parece mt interessante e tbm levantar questoes bem importantes, ja fiquei curiosa pra ler

    www.tofucolorido.com.br
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  2. Oie meninas,
    Passei aqui para desejar um Feliz Ano Novo, que 2019 seja cheio de muita paz, amor e felicidade.
    Que você conquiste seus sonhos e seus objetivos.
    Feliz 2019!
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  3. Política, religião e o poder na mão das mulheres. Essa história parece realmente ser muito interessante!!

    www.vivendosentimentos.com.br

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  4. Olá!
    Eu amo esse livro! Um dos mais legais que li esse ano.
    Comecei a me interessar pelo gênero depois de ler "O Conto da Aia".
    Sua mente também explodiu na última página? Hahah.

    Beijão
    Leitora Cretina

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