O Priorado da Laranjeira é um intrigante livro de fantasia única. Escrito pela autora Samantha Shannon. Ele está chegando aqui no Brasil em duas partes pela Editora Plataforma21. Uma história sobre legado, magia e uma guerra profetizada. Mas não sobre dragões. Fica aqui a crítica.
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Há centenas de anos, na Era da Amargura, uma fera ancestral despertou e causou ruína por onde passou. Aquele Sem Nome foi derrotado e colocado para dormir. Mas sua presença ainda ronda lendas e cria ameaça. No Leste, nas terras dos Seiiki, Tané cresceu e treinou para montar em dragões. Lá, os dragões são adorados como seres divinos. São diferentes dos monstros de fogo que descendem daquele Sem Nome.
No Oeste, os dragões e os wyverns são temidos e odiados. A fé que rege o Rainhado de Inys é diferente, e tem os dragões como seus maiores inimigos. A crença que existe é de que a linhagem de Berethnet guarda seu povo. Enquanto houver uma rainha com esse sangue e uma coroa, eles estarão a salvo do inimigo adormecido.
Apesar da estabilidade em ambos os reinos, coisas terríveis começaram a acontecer. Wyverns e wyrms passam a atacar cidades. Até mesmo os generais dragônicos da ameaça adormecida se levantam para espalhar o terror. Com o tempo, a instabilidade recai sobre os países. Então fica clara uma coisa: os dois territórios vão precisar colocar suas diferenças de lado para enfrentar seu maior inimigo.
O Priorado da Laranjeira é um livro de alta fantasia bastante complexo. Com muito foco em política e desenvolvimento de personagens. Mas pouco na ação e no conflito. Enquanto entrega muito de uma coisa, peca muito em outra.
Não me entenda mal, eu gostei do que li. Mas estava esperando mais do que me foi entregue. E pode ter sido expectativa mal construída da minha parte? Pode. Mas já que essa resenha é minha opinião, condiz com o que eu estava esperando da trama.
Com suas mais de 800 páginas, essa história em volume único tem um ritmo e desenvolvimento vagarosos. O que é um problema quando demora para desenrolar o conflito final, e acaba por fazê-lo em meras 40 páginas. A bem verdade, O Priorado da Laranjeira poderia ter tido umas 500 páginas, facilmente.
Todas as histórias crescem de uma semente de verdade.
Dava para cortar algumas situações ali no meio que acabaram rendendo drama, mas pouco desenvolvimento real. Poderia ter poupado diálogos e mostrado mais ação. Poderia, principalmente, ter feito valer a "grande ameaça terrível" que constrói por quase 750 páginas para, no fim, não ser nada impressionante.
A parte política do livro é ótima. Samantha Shannon não se apressa em fazer as coisas acontecerem e relação aos dois territórios. Isso nos dá tempo de entender as políticas de cada país. Conhecer mais a fundo cada personagem. Assim, cria aquela sensação de que estamos em um universo muito querido. Muito familiar. Por isso, eu esperava mais tensão quando a ameaça começa a aparecer.
Os wyverns são impressionantes. Mas são burros. E, ironicamente, são criaturas inteligentes, com capacidade de falar e pensar. São generais de batalha, representando a fera aprisionada. Mas são burros! Nem pra fazer um estrago eles servem.
O Priorado da Laranjeira tem diferentes pontos de vista no decorrer da trama. Cada um em um canto do mapa. Temos Tané, no Leste, com seu sonho de se tornar uma cavaleira entre os dragões. Ead, no Oeste, na corte da rainha Sabran. Ela está ali como espiã há quase dez anos, trabalhando para garantir a segurança da rainha. Loth, em uma viagem secreta, que acaba se envolvendo numa trama paralela para lá de perturbada. E Niclays, no Leste, é um exilado de moral bastante dúbia.
A divisão de fé é muito marcante na história. O culto à fera Sem Nome, a grande ameaça adormecida, está crescendo. No Rainhado de Ilys, a fé reside em virtudes que representam as inclinações de cada pessoa. No Leste, a fé está sobre os dragões da água; feras ancestrais que combateram Aquele Sem Nome no passado, e que reinam como deuses sobre aqueles que os adoram.
"Todos temos sombras em nós. Eu aceito as suas."
O Priorado da Laranjeira tem grande inspiração na cultura oriental para a composição do reino do Leste. Enquanto os dragões de fogo são inspirados nas feras clássicas de RPG, como os wyverns, as feras do Leste se assemelham aos das culturas orientais.
Eu gostei muito dessa divisão criativa, e de como esse universo é completo. Além deles, temos a magia do Priorado da Laranjeira. É um lugar habitado por guerreiras ancestrais, mulheres que foram escolhidas para carregar o fogo da árvore sagrada. Ead é uma delas. Toda a mitologia criada em volta dessas magas é incrível e completa. Tem lendas, histórias antigas, e elas se entrelaçam com a história principal de um jeito bastante notável.
Eu queria, no entanto, que os plot twists tivessem sido mais bem entregues. Alguns são legais, outros parecem sem pé nem cabeça. Mas, em resumo, não têm emoção. Não sei se foi questão de narrativa ou de escolha de cena. Mas, sempre que alguma reviravolta acontecia, eu não ficava impressionada. Se achava ótimo, era porque trazia uma nova visão para a história. Faltou aquele choque, sabe? Aquela cena que tira seu ar, porque você não imaginava isso acontecendo. E, quando não fazia o menor sentido, era pra me deixar com pontos de interrogação na cabeça. Teve um, em específico, envolvendo uma peça-chave da trama que surge, literalmente, do nada de bandeja para uma das personagens, que pelo amor de deus.
O Priorado da Laranjeira, a bem verdade, é muito mais sobre suas personagens do que sobre a fantasia. E por isso, talvez, eu tenha me decepcionado. A promessa de guerra e horror que perdura 700 páginas acaba se mostrando infrutífera. É aquele tipo de fantasia que arrasta sua ameaça e sua história por muito tempo, para encerrá-la de maneira abrupta e sem emoção. A "grande batalha" mal dura 30 páginas. Não tem um saldo positivo que eu possa tirar dela, com tudo que o livro prometeu e não cumpriu. Era para ser épico, e foi broxante.
Lembre-se, Tané, que uma espada não precisa ser amolada o tempo todo para se manter afiada.
As personagens, no entanto, salvaram a história para mim. Como eu disse, o desenvolvimento delas é excelente. Usa mais páginas do que precisava, a bem verdade. Ead, Tané, Loth e Sabran foram queridos em todos os seus momentos. E a narrativa sabia disso, e por isso se estendeu tanto neles. Apesar de amá-los, muita coisa poderia ter sido poupada para que, no final, o livro não precisasse me contar o que aconteceu, e sim me mostrasse acontecendo.
Eu gostei demais dos arcos de cada protagonista. Ead e sua coragem, Tané e sua força, Loth e seu coração, Sabran e sua determinação. Cada um deles vive em intensidade suas histórias individuais, e a forma com que elas se entrelaçam é maravilhosa.
As mulheres de O Priorado da Laranjeira são a força motriz dessa história. O universo da Samantha Shannon é movido por suas personagens femininas. Em suas mais diversas posições de poder, elas regem o mundo. Guiam batalhas. Fazem escolhas que decidem o destino da humanidade. As mulheres são um dos pontos mais fortes do livro.
Ead e Tané foram muitas favoritas. A primeira, poderosa em sua magia, sábia em suas escolhas, fiel em seu coração. Ela e Sabran desenvolvem um relacionamento que começa nas alfinetadas e na Ead tendo coragem de dizer à rainha do Leste o que mais ninguém diz. Aos poucos, uma faísca nasce, e o romance se desenvolve lindamente.
Esse é um universo em que relacionamentos homoafetivos existem e são aceitos como qualquer outro. E é sempre incrível pegar uma história de fantasia que abraça a diversidade LGBTQIA+ com a normalidade com que deveria. O mesmo para a diversidade de personagens não-brancos em todo o livro.
"Meu coração conhece sua canção, como o seu conhece a minha."
Tané, a cavaleira de dragão mais fiel e honrada do mundo, foi outro show da história. Ela e sua dragão companheira são de uma irmandade tão linda e querida que roubaram meu coração. O modo como os dragões são venerados no Leste cria em Tané essa adoração; e é lindo ver a relação de amizade e família que ela desenvolve com a fera que a escolhe.
Loth e Sabran também roubam momentos para brilhar. Mas, para mim, Ead e Tané foram o maior espetáculo desse livro. Do começo ao fim, foram consistentes em suas personalidades. Ganharam arcos de crescimento e desenvolvimento maravilhosos. E tiveram fins dignos da história que escolheram viver.
É durante a noite que o medo vem até nós com toda a força, quando não temos como lutar contra ele.
O Priorado da Laranjeira tem pontos altos e baixos, no fim das contas. É uma fantasia épica que escorrega muito na parte do "épico". Tem uma mitologia interessante, personagens femininas poderosas. Mas falha no que promete por tanto tempo. No fim, deixa uma sensação de que poderia ter sido muito mais.
Sinopse: Nas terras de Seiiki, a Leste, a jovem Tané passou a vida treinando para ser capaz de montar em dragões. Para os povos do Leste, dragões são adorados como seres divinos. Então, ao conquistar seu sonho, todas as portas estariam abertas para Tané. Certo dia, surge em seu caminho um náufrago vindo do Oeste. Ela não o entrega às autoridades, como exigido pela lei, o que pode trazer duras consequências. A Oeste, Sabran Berethnet é a soberana no Rainhado de Inys. Lá, existe a crença de que dragões são feras ruins e terrivelmente perigosas. A linhagem de Berethnet governa há mil anos, e acredita-se que os dragões ressurgirão se ela for dizimada. A rainha Sabran, a última de sua linhagem, vive então sob a ameaça de uma conspiração para cumprir este intento e assassiná-la. Mas ao seu lado está Ead, maga de uma poderosa ordem secreta que deve protegê-la. Em meio a tudo isso, os povos do Leste e do Oeste — que têm visões de mundo tão opostas — serão obrigados a se unir quando um dragão ancestral gigante desperta. Mulheres conduzem e influenciam o destino de seu mundo, sejam elas rainhas, magas ou aquelas que cavalgam dragões.
Título original: The Priory of the Orange Tree
Autora: Samantha Shannon
Editora: Plataforma21 (Brasil)
Gênero: Alta fantasia
Nota: 3,5
Olá, Denise.
ResponderExcluirDei uma desanimada agora. Fiquei morrendo de vontade de ler quando vi o livro na outra postagem, mas agora lendo sua resenha não sei mais se vou ler ele. O preço está bem alto e ainda mais ler tudo isso de páginas e não ser tão marcante assim, não sei se vale a pena.
Prefácio
Moça, leve em consideração que varia de pessoa para pessoa! Eu indico que arrisque, para mim foi um completo sonho de livro. Mesmo que a intenção seja ser um livro acelerado e barulhento...é um livro silencioso.O segundo foi tão bom a ponto de eu lê-lo em 8 dias! Confia , talvez pode acabar se impressionando.. mas também pode ter funcionado para mim e pode acabar não funcionando para você!!
ExcluirOI Denise! Eu gosto demias de outra série da autora lançada aqui e desde que vi este novo livro fiquei ansiosa para ler, mas admito que suas considerações me desanimaram bastante, le esse tanto de páginas e não encontrar o esperado é complicado. E o livro está caro para eu investir agora e não gostar. Vou pensar melhor se vou ler ou não.
ResponderExcluirBjos!! Cida
Moonlight Books
Hey! Eu li ambos os livros e achei muito bons no total. Acho que varia de pessoa para pessoa sabe? Eu indicio você arriscar, para mim foi um sonho de livro que eu até li ouvindo duas musicas que sei que quando ouvi-las vou lembrar da historia! Eu concordo com que a moça disse acima, sim faltou o impacto épico que prometeram da batalha final, mas vale muuuito apena ler!
ExcluirPorque o livro foi dividido em 2? Me confundiu isso.
ResponderExcluirEscolha editorial pra não lançar calhamaço (que eu, particularmente, não gosto. Ainda mais com as capas de cores diferentes). Juntando o preço dos dois volumes, eu preferia um livro inteiro mais caro sem ter que esperar por "continuação" de uma mesma história ._.
ExcluirIdem!
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