Temporada de Caça é um livro de horror que fala sobre cultura indígena, legado e vingança. Do premiado autor Stephen Graham Jones, e lançado aqui pela Editora Darkside, é aquele tipo de leitura que vai causar calafrios na espinha. E vai te deixar com medo de olhar por cima do ombro.
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A história acompanha quatro homens da reserva Blackfeet; no passado, no último dia da temporada de caça, eles fizeram alguma coisa que não deviam. Foram além dos limites. Dez anos se passaram, e o que eles deixaram para trás parece estar retornando para buscar retribuição.
Ricky, Lewis, Cass e Gabe vivem suas vidas em lugares separados. Ricky e Lewis deixaram a reserva, cada um carregando suas histórias, ressentimentos e medos para bem longe dali. Cass e Gabe seguiram suas vidas como se nada tivesse acontecido. Agora que o Dia de Ação de Graças está chegando e, com ele, os dez anos desde o fatídico acontecimento, a sombra do seu passado vai voltar para caçá-los.
Eu já estava com Temporada de Caça na minha TBR há muito tempo, desde que vi a indicação dele em uma lista de histórias de horror; a Mayra Sigwalt também falou sobre ele e me deixou muito animada, porque todos os pontos levantados gritavam que eu favoritaria essa história. E favoritei!
Do começo ao fim, Stephen Graham Jones tece uma trama que é quase cinematográfica. Você vê a história ganhando cor e vida conforme avança na leitura, e ela é de um assombro e horror tão grande que é impossível parar de ler.
Temporada de Caça explora muitas questões dentro dos arcos que apresenta. Conhecemos os nossos protagonistas em seus momentos mais aterrorizados; a trama do Ricky é quem abre a história, e é um momento tão macabro que já dita o tom do que vem por aí. Quando a cena dele acabou, eu estava com os olhos arregalados em pavor com o que o livro me ofereceria dali para frente.
Mas foi também, no fim das contas, o último dia da temporada deles de uma maneira diferente.
Enquanto fala sobre o sobrenatural, o autor também traz discussões sobre o horror da vida real. Os quatro protagonistas são indígenas, e em todo ponto de vista tem um momento para discutir sobre o racismo, seja de maneira séria e tensa, seja de maneira quase satírica, estando ele tão intrincado na sociedade.
Uma coisa que eu não gostei na tradução, aliás, e que a Mayra apontou de maneira sensível nos seus comentários sobre a edição brasileira, foi sobre a escolha da palavra para traduzir "indian". Tem algumas "justificativas" ali no prefácio, mas nenhuma delas tem o parecer de uma leitura sensível, uma consultoria indígena, para ter certeza de que a adaptação para o português não seria nocivo.
O contexto da época não justifica quando a tradução vai ser ofensiva, ainda mais porque foi escrita por um homem indígena. É preciso sensibilidade e, principalmente, ter a voz de indígenas por trás do trabalho de edição. Durante a leitura, a quantidade de vezes que a palavra "indian" aparecia com uma tradução nociva incomodou demais. Valia a pena ter dado uma consultada pra ter certeza do que fazer (coisa que dá pra ser feita em uma futura edição!).
Por trás do trailer, no pé do barranco, ele vê provavelmente oitenta, noventa cervos. Talvez cem. Todos o enceram fixamente, sem mover uma cauda, sem mesmo piscar.
A maneira com que Stephen Graham Jones nos apresenta seus personagens também faz com que a gente se importe muito com eles, mesmo falhos como são. Lewis é de uma complexidade quase desesperada; Cass, mais tranquilo, querendo seguir em frente sem saber o que o espera; Gabe é mais perturbado, marcado pela bebida e pela solidão; e Ricky... Bom, eu deixo vocês descobrirem sobre ele.
O horror que caça esses quatro homens é misterioso, a princípio. Uma entidade que não se revela, mas que está observando; caçando. É, realmente, uma temporada de caça. Ela cerca suas vítimas, tira delas tudo em que podem se sustentar. Aterroriza cada uma delas ao extremo, além dele. E, consequentemente, nos perturba, porque é de uma realidade gritante.
O horror se mistura ao terror nesses momentos; enquanto é macabro e visceral, é também assustador.
Tem muitas coisas inseridas num contexto mais profundo, como toda boa história macabra. Temporada de Caça explora a vingança, sim, mas também o luto, a perda irreparável de alguém, ou alguma coisa, que era parte de você. Fala sobre a natureza, o quanto é bela e impiedosa, tal qual a humanidade. Explora as falhas dos seus protagonistas, seus medos, nos piores momentos possíveis, para torná-los uma casca de quem realmente eram. Discute legado, ancestralidade e o quanto esses ecos do passado ainda reverberam nas gerações atuais.
Os pontos de vista separados constroem a tensão da trama, especialmente quando você entende como ela vai caminhar. Quando os momentos horríveis acontecem, eles são chocantes. Sangrentos, torturantes, de arrancar sanidade dos seus personagens. É, realmente, uma caçada por vingança. Não há piedade do que quer que esteja atrás deles.
Afinal, quando o mundo inteiro machuca, você morde de volta, não é?
Com exceção da questão com a tradução, a edição segue os padrões impecáveis da Darkside. A diagramação é muito confortável, os espaços entre as partes do livro têm uma arte bem tenebrosa, assim como as artes da abertura e encerramento. E a capa, eu adorei também.
Temporada de Caça não apenas foi um favorito do ano, mas se tornou um favorito da vida. É um horror aterrorizante, um terror perturbador; é uma história sobre a natureza e a vingança, sobre quatro homens cometendo um erro que vai sombreá-los até o fim de suas vidas - onde quer que seja isso.
Sinopse: No último dia da tradicional temporada de caça, quatro homens indígenas do território sagrado da nação Blackfeet, no estado de Montana, tomaram uma decisão que custaria muito caro. Lewis, Ricky, Gabe e Cass sabiam que caçar na reserva era proibido e um desrespeito, mas, movidos pela adrenalina, fizeram mesmo assim. Agora, dez anos depois do evento conhecido como Clássica Ação de Graças, Lewis começa a ser assombrado por um espírito vingativo — uma criatura com cabeça de cervo. Em Temporada de Caça, Stephen Graham Jones apresenta um romance brutal sobre vingança e pertencimento que sem dúvida já se tornou um clássico do gênero. Graham Jones cutuca feridas sem medo de machucar. Escritor de mão cheia capaz de embrulhar o estômago do leitor ao mesmo tempo em que provoca reflexões profundas, ele desfia, a partir da premissa de vingança, temas como racismo, trauma entre gerações e a vivência indígena nos Estados Unidos. Um terror moderno que nunca perde o ritmo, uma prosa capaz de deixar escapar um sorriso tenso no canto da boca. Um livro que arrepia pela originalidade e choca pela veracidade dos fatos.
Titulo original: The Only Good Indians
Autor: Stephen Graham Jones
Tradução: Leandro Durazzo
Editora: Darkside
Gênero: Horror (+18)
Nota: 5+
SKOOB
Autor: Stephen Graham Jones
Tradução: Leandro Durazzo
Editora: Darkside
Gênero: Horror (+18)
Nota: 5+
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