Resenha: Garota, Serpente, Espinho - Melissa Bashardoust - Queria Estar Lendo

Resenha: Garota, Serpente, Espinho - Melissa Bashardoust

Publicado em 20 de abr. de 2023

Resenha: Garota, Serpente, Espinho - Melissa Bashardoust

Garota, Serpente, Espinho é o lançamento da Editora Literalize - e chegou aqui em cortesia. Essa fantasia em volume único tem inspiração em histórias persas e conto de fadas, e fala sobre uma princesa amaldiçoada com um toque venenoso.

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Soraya cresceu ouvindo histórias sobre os devs - criaturas de grande poder que são consideradas monstros. E também cresceu com a certeza de que era um desses monstros. Afinal, desde bebê, tudo o que Soraya toca, morre. Suas veias são venenosas, e seu toque é mortífero. Por isso, desde criança, foi criada em reclusão pela mãe, sem participar da vida ativa da corte.

Tudo muda quando uma oportunidade de acabar com essa maldição aparece em seu caminho. Soraya descobre que existe um artefato mágico capaz de extinguir seu toque venenoso. Mas, para consegui-lo, ela talvez tenha que ir contra tudo que aprendera até então.

Quanto mais se aproxima da salvação, mais a princesa é confrontada com um grande questionamento: será que é possível deixar de ser um monstro?

Eu sempre tive medo de que o veneno ia me tornar um monstro, mas e se tentar me livrar dele fizer de mim um monstro maior do que eu era antes?

Garota, Serpente, Espinho é outra fantasia em volume único da autora de Garotas de Neve e Vidro. Aqui, temos um romance sáfico fofo, uma protagonista indecisa entre os caminhos que surgem em sua jornada, e uma construção de mundo muito carismática.

A inspiração nas histórias persas é muito bem desenvolvida pela Melissa Bashardoust, com um cuidado e uma criatividade bem grandes. Conhecemos esse mundo através dos olhos de uma princesa "presa a uma torre", escondida por algo que não é sua culpa. E é com deslumbre e medo que acompanhamos o caminho de Soraya seguir em direção a uma possível liberdade, porque o preço dessa liberdade pode ser grande demais.

Todo começo de história é igual: havia e não havia.

Eu gostei bastante da protagonista até lá para a metade do livro. Os conflitos internos dela eram bem interessantes porque mexiam com a moral cinzenta; ela é um monstro? Então deve agir como um? A raiva e a frustração que carregam são motivo suficiente para se tornar a vilã da história? Ou ela pode buscar salvação na esperança? Pode encontrar a si mesma no amor?

Resenha: Garota, Serpente, Espinho - Melissa Bashardoust

Depois de certo ponto, no entanto, a Soraya só parecia... perdida. Eu achei que veria mais decisão dela do meio para o final, mas até um grande momento ali do clímax, ela estava andando em círculos. Em um momento, queria ser cruel. No outro, queria ser boazinha. Em outro, odiava a família, para logo em seguida pensar que na verdade era culpa dela, a família não tinha nada a ver com isso.

(Só um adendo de que: a família é a culpada sim. Não tem desculpa para nada do que eles fizeram com a Soraya). E eu queria ter visto mais da raiva dela. Garota, Serpente, Espinho precisava de mais raiva feminina. E eu sei que estou comentando sobre isso nas resenhas mais recentes, mas é porque tenho sentido falta disso em histórias assim.

Aqui, tinha muito espaço para que a Soraya fosse movida pela fúria. E mesmo em se tratando de um YA, a autora podia ter dado umas espetadas um pouco mais raivosas nas atitudes da princesa. Soraya passou a vida toda trancada no palácio, impedida de conhecer o mundo, por uma família que mostra se importar muito pouco com ela. Eu queria vê-la furiosa!

Resenha: Garota, Serpente, Espinho - Melissa Bashardoust

Uma personagem que rouba cena assim que aparece, e é grandiosa até o final, foi a Parvaneh. A dev é prisioneira do irmão de Soraya e carrega enigmas que movem bastante da trama. Eu gostei de tudo que envolveu a dev! Ela é divertida, cheia de vida e de energia, e tem algumas sombras com as quais lidar.

Sabe quando a personagem coadjuvante se destaca? É o caso aqui. Parvaneh rouba a cena e nossos corações, e ela é tão maravilhosa que eu conseguia me desconectar da indecisão chata da Soraya só para aproveitar a presença da dev.

O romance entre elas, aliás, é uma gracinha. Sabe aquele romance sáfico que te deixa sorrindo o tempo todo? Tem em Garota, Serpente, Espinho. As duas se conectam através do pertencimento. Parvaneh faz com que Soraya se sinta confortável na própria pele, e isso é grandioso para uma garota que foi oprimida a temer a si mesma desde o nascimento.

- Mas eu acho que gosto bem mais de fazer você rir.

De novo: eu odeio a família da Soraya.

É um romance slow burn fofo, que se desenvolve com as personagens. Da estranheza para a confiança e então aquela faísca de sentimento mais intenso. É uma gracinha!

O vilão da história acaba sendo um pouco blasé, uma coisa bem "vou fazer discurso e esqueço de agir" o tempo todo. Eu esperava um pouco mais, até porque a construção dele é bem poderosa. Cria um clima de medo e tensão, porque Shahmar é apresentado através de pesadelos e conto de fadas sombrios. Quando ele de fato entra na trama, acaba naquela de: prometeu tudo, não entregou muita coisa.

Resenha: Garota, Serpente, Espinho - Melissa Bashardoust

O que mais me conquistou em Garota, Serpente, Espinho e tornou essa uma leitura boa (além da Parvaneh, maravilhosa, perfeita, tudo) foi o universo. De novo, a autora apresenta esse mundo inspirado nas histórias persas de maneira muito vívida. As descrições dos lugares dentro do palácio, da cidade, das comidas, das vestimentas, da cultura. É tudo muito bem desenvolvido, lindo e cativante.

Tem inclusive uma nota da autora no fim do livro que eu achei bem interessante, onde a Melissa fala sobre as inspirações para essa história, as pesquisas históricas que fez, as leituras que recomenda para quem quer conhecer mais sobre lendas e conto de fadas persas. Muito, muito legal como material extra para esse livro.

Sobre a edição, o trabalho da Literalize tá lindo. A única coisa que me pegou foi a tradução/revisão, com problemas que até então eu não tinha encontrado nos trabalhos da editora. Pouca coisa a gente deixa passar, mas os problemas nesse livro apareceram durante todo o texto e acabavam tirando a imersão da leitura.

Não sei exatamente onde foi, mas estava ali. Frases estranhas, palavras que pareciam estar no lugar errado ("tinha as encontrado", "agarrou-lhe seu rosto"), diálogos que iam do formal para "a gente" e "pachorra" do mais absoluto nada. Sabe quando você fica interrompendo a leitura para pensar no que acabou de leu? Passei por isso.

Acho que faltou um maior cuidado da tradução, ao adaptar para o português, ou da revisão, ao deixar o texto estranho. De qualquer maneira, é uma crítica que preciso fazer porque realmente me incomodou.

No espaço ao redor da mãe, do irmão e da única amiga que já tivera, viu sua própria ausência.

No fim das contas, Garota, Serpente, Espinho é uma fantasia cativante sobre uma garota venenosa e a incerteza da jornada de alguém que cresceu acreditando ser um monstro. Com um universo vivo e criativo, a autora tece a história de uma princesa que também é um monstro em busca de salvação.

Sinopse: Por todo o reino havia histórias sobre uma princesa com o toque amaldiçoado. Para Soraya, escondida de todos a vida inteira e segura apenas dentro de seu golestão, essas histórias são a realidade. Entretanto, com o casamento de seu irmão gêmeo cada vez mais próximo, Soraya precisa decidir se está disposta a sair das sombras pela primeira vez na vida. De um lado, nas masmorras do palácio, existe um demônio com as respostas que ela busca, uma maneira de se tornar livre. Do outro, está alguém que não teme sua maldição, mas que olha para a princesa com compreensão e curiosidade. A princesa achou que sabia qual caminho seguir, mas suas escolhas levam a consequências inesperadas. Quando tudo começa a desmoronar, Soraya precisa descobrir quem ela é e o que está se tornando... Humana ou demônio? Princesa ou monstro?

Titulo original: Girl, Serpent, Thorn
Autora: Melissa Bashardoust
Editora: Literalize
Tradução: João Rodrigues
Gênero: Fantasia | YA
Nota: 3,5


Um comentário:

  1. Anônimo20.4.23

    Esse é o primeiro blog que entro e achei bem legal e sobre o livro achei super legal

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