Resenha: Não perturbe a floresta - C.G. Drews

Não perturbe a floresta é uma combinação espetacular entre terror psicológico e horror corpóreo publicada aqui pela Plataforma21. A história que C.G. Drews conta acompanha dois garotos perturbados por horrores físicos, mas principalmente pelos monstros que habitam suas criações.

Se curtiu essa história, vai gostar de:

• O que se esconde na floresta, de Courtney Gould
• Meninas Selvagens, de Rory Power
• Gótico Mexicano, de Silvia Moreno-Garcia
• A queda da casa morta, de T. Kingfisher

Andrew e sua irmã gêmea voltaram para o internato onde estudam para mais um ano depois de um incidente que ninguém menciona, mas parece ter envolvido a floresta - agora, todos os alunos estão proibidos de pisar lá. Mas a floresta é o segundo lar de Andrew e Thomas, seu melhor amigo, seu coração fora do corpo, e não podem separá-los dela.

O problema é que, quando voltam para a floresta, descobrem não estar sozinhos ali. Parece que alguma coisa sinistra tem habitado as sombras das árvores, perseguindo Thomas; quando descobrem que são as criações artísticas do menino desenhista, eles decidem que cabe aos dois destruir o mal que criaram.

Não perturbe a floresta veio num momento em que eu estava numa espiral de livros com florestas mágicas e sinistras, e rapaz, que livro bom!

Ser deixado ferido e oco era uma sensação familiar. Uma dor confortável.

A atmosfera é sinistra, os perigos são estranhos, a jornada dos garotos é macabra. É aquele tipo de livro que brinca com a nossa curiosidade e nossa fé. Será que os monstros são reais? São invenções? São parte de um mundo que só os garotos podem ver? E como parar um horror que parece determinado a devorá-los?

C.G. Drews faz um trabalho espetacular construindo a ambientação desse internato isolado e sinistro, com paredes tão antigas quanto os horrores que a floresta guarda. Não é um lugar seguro, não apenas por causa da fantasia macabra, mas também porque os garotos estão sozinhos ali. Não podem confiar nos professores, bullies aterrorizam os dias de Andrew, sua irmã parece cada vez mais determinada a manter distância dele.

A sensação de sufocamento do protagonista é palpável nas páginas. Quase como se ele estivesse sendo engolido pelos horrores. Devorado pela floresta e pelo terror que ela esconde.

Gostei demais do desenvolvimento do personagem, cada vez mais paranoico e atormentado. É um livro que escalona o terror e o horror corporal de acordo com o personagem, deixando nós, leitores, igualmente sufocados. A cena em que o Andrew sente a floresta dele me deixou arrepiada.

- Todo mundo pode ser um monstro.

Thomas é um coadjuvante muito interessante. O pilar que sustenta Andrew, mas igualmente pendente em direção a uma perturbação sem fim. Os dois estão tão quebrados e tão dependentes um do outro que se torna uma relação quase doentia, ao mesmo tempo em que é o bote salva vidas de ambos.

Os dois se alimentavam um do outro incansavelmente, seus sonhos febris sangrando pelos olhos depois de despertarem.

Não perturbe a floresta traz um plot twist que eu não achei tão twist assim porque saquei ele logo nas primeiras páginas, mas o modo como ele acontece me surpreendeu. Principalmente com o que veio depois dele. O final desse livro me deixou absolutamente tela azul em choque, horror e descrença.

A edição da Plataforma21 tá linda demais com a pintura trilateral temática, diagramação com detalhes florestais e uma tradução excelente de Carlos César da Silva.

Não perturbe a floresta perturba seus personagens, seus leitores e termina num tom agridoce perfeito para uma história que trabalhou tão bem a atmosfera sinistra de uma floresta viva e cheia de horrores.

Sinopse: Andrew Perrault encontra refúgio nos contos de fadas sombrios que escreve e depende de Thomas Rye, seu melhor amigo, para manter os pés na realidade. Mas tudo mudo quando os pais de Thomas somem misteriosamente, e o garoto aparece para o último ano da Academia Wickwood com a camisa manchada de sangue. Thomas não responde às perguntas de Andrew e se torna uma sombra de si mesmo – não desenha, não fala e se encolhe diante de algo que Andrew não é capaz de enxergar. Só que a verdade está à espreita. Desesperado para saber o que realmente está acontecendo com Thomas, Andrew o segue até a floresta proibida numa madrugada e descobre o impossível: os monstros dos desenhos de Thomas agora habitam o mundo real. Matam – e estão cada vez mais famintos. Para impedir outras mortes, os dois enfrentam as criaturas noite após noite. Mas os monstros parecem ficar mais fortes à medida que a obsessão entre os garotos se intensifica, e Andrew teme que a única maneira de eliminar as criaturas seja destruindo seu criador.

Título original: Don't let the forest in
Autoria: C.G. Drews

Tradução: Caio César da Silva

Editora: Plataforma21
Gênero: Terror | Young Adult
Nota: 5
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